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De que forma usamos o cérebro para ouvir?

Contribuído por Acústica Médica

26/06/2017 00:00:00 • 3mn Tempo de leitura

Ouvimos com o cérebro, e não com os ouvidos.

Claro, que precisamos dos ouvidos para receber os sons, mas só entendemos esses sons quando chegam ao nosso cérebro. Então, ouvir é essencialmente a compreensão do discurso, é um processo cognitivo, e não mecânico.

Em outras palavras: ouvir é pensar.

Os ouvidos transportam os sons para o cérebro. Não escolhem o que enviar. Na verdade, eles nunca descansam. Mesmo quando estamos a dormir, os nossos ouvidos estão a enviar informações de som para o cérebro.

O cérebro, faz todo o trabalho duro. Filtra os sons irrelevantes, como outras pessoas a falar em restaurantes ou como o barulho do trânsito, e coloca-os em segundo plano.

Sem nos apercebermos, o cérebro está constantemente a trabalhar, seleccionando o que ouvimos e decide a prioridade de cada som.

Mas antes de tomar qualquer decisão, o nosso cérebro deve primeiro obter o significado das ondas sonoras que estão no ar. Ao ter identificado os sons através dos dois ouvidos e compará-los, o nosso cérebro localiza a fonte dos diferentes sons.

Usamos informações de localização para determinar quais partes do som vêm de determinados objectos, pessoas, ou animais. Essas habilidades evoluíram durante o nosso passado primitivo, quando efectivamente, localizar ameaças e alimentos eram fundamentais para a nossa sobrevivência.

O cérebro transforma os sons para que tenham sentido

Quando o nosso cérebro escolhe uma fonte sonora, ele compara esse som com a nossa memória. Ao fazer isso, pode determinar se o som é algo que ouvimos antes e, portanto, algo que já conhecemos. Da mesma forma, o nosso cérebro às vezes não encontra qualquer referência na memória e guarda-o, para que possa comparar na próxima vez. Enquanto isso, somos alertados para o perigo, por o cérebro não reconhecer um som.

Depois do nosso cérebro retirar a informação sonora dos ouvidos e transformado em algo que faça sentido, ele poderá extrair mais informações sobre o que está à nossa volta.

Do período de tempo que leva um som para ecoar, e a quantidade de eco que ele cria, o nosso cérebro dá-nos uma sensação de quão grande é um espaço. Também deduzimos o tipo de ambiente que há numa sala, a partir do modo como muda o som, e como este chega até aos nossos ouvidos.

Todos esses cálculos acontecem simultaneamente, no cérebro. Uma vez que é o cérebro que transforma os sons para que façam sentido, a boa audição não é simplesmente uma questão de fazer sons suficientemente altos. Uma boa audição exige que asseguremos que o cérebro consiga toda a informação sonora de que precisa. Não deve perder algumas frequências, ou alguns sons de determinadas direcções.

Se o cérebro não está a obter os sons certos para trabalhar, é preciso um intenso esforço para extrair algum significado do som parcial. Sempre que há sons em falta, o cérebro tenta preencher a lacuna, um processo frequentemente difícil e exaustivo.

Em vez de aumentar o volume e sobrecarregar o cérebro, temos de apoiá-lo, dando-lhe as condições que ele precisa. Para extrair o significado de forma adequada, o cérebro precisa de ter acesso à paisagem sonora total, de modo que se possa concentrar naturalmente nas fontes de som mais relevantes.

Os aparelhos auditivos modernos já têm tecnologia digital e vêm com processadores mais poderosos do que nunca, e já não precisam de restringir o campo de som quando estiver estiver em ambientes ruidosos. Um especialista ao programar os aparelhos auditivos poderá compensar as frequências que faltam à audição, para repor as condições para o qual o cérebro foi projectado para funcionar.